À parte as questões políticas (sem esquecer que tudo faz parte do jogo político) geradoras da situação de golpe pela qual o Brasil passa e indignada com fatos que estão atravessados em minha garganta, tirei um tempo para despejar as palavras que turbilhonam minha mente.
"Vai tomar no cu", "puta", "vaca comunista", "anta", "bandida" - sem contar outros ainda piores -, são alguns dos xingamentos que Dilma Rousseff tem se obrigado a engolir, mantendo a pose na Presidência da República e o respeito ao seu cargo.
E nós, educadas que somos, vamos engolindo junto, não sem perceber que cada palavrão nos atinge diretamente como mulheres.
Em um país considerado um dos mais machistas do mundo somos obrigadas a ser violentadas, não apenas em nossas casas, por nossos companheiros, pais, filhos e homens que circulam em nosso convívio social, mas midiaticamente e virtualmente.
Mais que os palavrões, políticos que deveriam representar seus eleitores - dentre eles muitas mulheres - reafirmam a cultura do macho. O "tchau, querida" em cartazes verde e amarelo empunhados pelos golpistas no Congresso Nacional durante a votação do impeachment, no domingo (15/04), foi uma demonstração. Fosse um homem o presidente, não veríamos um "tchau, querido".
Não satisfeitos em vilipendiar a imagem e a figura da autoridade máxima brasileira, o deputado federal Jair Bolsonaro (PSC-RJ) mirou a presidenta e, apesar de acertar todos e todas as vítimas da ditadura civil e militar (1964-1985), atingiu diretamente Dilma, que deve ter (re)sentido todas as torturas pelas quais passou nas mãos de torturadores naqueles minutos em que pairou silêncio absoluto em uma das salas de reunião do Palácio do Planalto.
Ao expor seu apreço e posição favorável à ditadura: "perderam em 1964 e agora em 2016", este homem atingiu seriamente conceitos que trazem no nome o gênero feminino como "Soberania", "Nação" e "Pátria" e mostrou sua "cara" fascista e perigosa.
Acintosamente, ao homenagear o torturador "oficial" Brilhante Ustra, esse pulha sabia o mal estar que iria causar e o pavor que reverberaria em todos(as) os(as) que foram suas vítimas, suas famílias e amigos(as). Mas sabia mais, que aquilo atingiria diretamente Dilma. Ouso dizer que senti como que uma ameaça a ela.
Seguiu-lhe os passos o filho e também deputado federal, Eduardo Bolsonaro (PSC-SP), que em seu breve momento de "glória" vomitou "pelos militares de 64".
Não bastasse tudo isso, Veja, a revista mais escrota do Brasil, indignou milhares (se não milhões) de mulheres brasileiras com o artigo (PASMEM) de uma mulher (Juliana Linhares) sobre Marcela Temer com o título: "Bela, recatada e do lar", que torna óbvia mensagem às brasileiras e à Dilma de que mulher no Brasil:
1º) No mais alto posto do poder executivo - a Presidência da República - a reserva do posto de primeira dama como devendo ser o único e exclusivo anseio de uma mulher;
2º) Não adianta lutar ou buscar os espaços de poder. Eles devem continuar sob as asas masculinas; e,
3º) É assim que todas as mulheres (TODAS, SEM EXCEÇÃO) devem se comportar e é assim que aceitamos que vivam.
Ao mesmo tempo, esse mesmo discurso induz os homens, principalmente os agressores físicos, emocionais e psicológicos, a continuarem e reafirmarem sua práxis machista. Tudo que vai no contraponto às políticas afirmativas do papel atual da mulher na sociedade brasileira.
Por isso, eu posso afirmar nesse desabafo, que todas as agressões e preconceitos que sofri ao longo da minha vida (e olha que não fui torturada pelos militares) têm estado latentes em mim. Não só quando o alvo é Dilma Rousseff, mas também quando o ódio e a intolerância despejam ofensas e agressões às mulheres feministas, às que se levantam contra seus algozes, às que lutam por espaços de poder, às que combatem a violência doméstica, sexual e o feminicídio, às de esquerda, etc...
O pior é que muitas brasileiras reproduzem o discurso e a prática machista. Cegas em sua ignorância, deixam-se manipular e relegam à mulher o papel de procriadoras e à reles função de "amadas" mães e esposas. Violentadas que são por suas próprias pobres concepções do que é ser mulher.
Assim, o título "Bela, recatada e do lar", da Veja, reflete o pensamento macho e patriarcal. Já o meu "Violentada, ultrajada e do Brasil" expõe a realidade pela qual passa, não apenas Dilma Rousseff, mas toda cidadã brasileira hoje.
Imagem retirada do site google.com.br
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