Levei muito tempo e foi preciso muita coragem para escrever novamente. Comecei várias vezes. Desisti todas. Pensei em muitos temas. Tenho repensado o dia a dia, a minha história, o passado recente, minhas várias fases, minha infância.
Dessa vez decidi escrever e colocar só no blog. Não vou compartilhar no facebook. Depois do 15 de março - acho que desde o dia 17 - entrei raríssimas vezes e curti pouquíssimas postagens. Acho que a depressão é assim: De altos e baixos. E, sinceramente, estou de baixa mesmo. Não quero aumentar os medicamentos. Não quero ficar grogue. Na verdade, não são só os remédios que me ajudariam a melhorar, mas outras coisas.
Não quero escrever hoje, olhando o que coloquei no dia "1", mas acho que citei minha sobrecarga e responsabilidades e o fato de pedir às pessoas que estão próximas de mim que me ajudem. Minha mãe é uma dessas responsabilidades e por mais que eu explique que preciso de paz e tranquilidade, ela consegue me deixar sempre de sobressalto. Sempre esperando ter de resolver algum problema que ela crie com vizinhos ou outras pessoas - e há que se dizer, muitas vezes são problemas graves - graças a seu transtorno psíquico que vem desde sua infância - até aos problemas normais do avanço da idade como perder a chave dentro de casa e ficar trancada dentro de lá dentro, entre outras coisas.
Mas não é só isso. Acho que passei muito tempo me preocupando demais. Olhando demais. E percebendo demais. Meu pai sempre dizia: "Minha filha, você tem um poder incrível de perceber quando as pessoas não estão bem. Você chega aqui, olha para mim e sabe se estou passando mal, se estou nervoso, se estou feliz." Eu ficava tão contente dele "perceber" que eu "percebia".
E falando do meu pai. Nos últimos dias, também tenho pensado muito na minha tia Judith, que também já faleceu.
Sabe, para explicar direito, tenho que contar um pouco da história da minha família paterna - em outro dia acho que conto também o pouco que sei da história da família de minha mãe.
Depois de muita andança, meu pai - que era gaúcho lá de Soledade - veio trabalhar aqui em Londrina como representante comercial. Aqui conheceu minha mãe, que engravidou de mim e os dois se casaram. Então, assim, tornei-me a causa de mais um pequeno núcleo dos Rostirolla iniciar um ciclo familiar fora do Rio Grande do Sul.
Acredito que pouco depois do meu nascimento, minha tia Judith havia ficado viúva e, como meu pai estava preocupado por ela ter ficado sozinha com quatro filhos para criar, pediu para que ela viesse morar em Londrina e ela veio quando eu ainda era bebê.
Para encurtar a história. Quando eu tinha seis anos, meus pais se separaram. Eu e meus irmãos ficamos com ele e minha tia e dois filhos dela vieram morar conosco (duas filhas já estavam casadas). Aí, viramos uma grande família. E Londrina recebeu depois outros Rostirollas, filhos de um outro irmão do meu pai, um tio por quem sempre tive um carinho especial, que acho que é espiritual, já que nunca convivi com ele, o tio Aristênio.
Depois de contar essa pequeníssima parte da história, volto à minha tia Judith (já falecida). Lembro de uma conversa que me deixou espantada. Meu pai já tinha tido o primeiro derrame, mas estava bem. No meio da conversa, minha tia virou-se para mim e falou: "O seu olhar é sempre o mesmo. Lembro de você você pequenininha, com esse seu olhar de tristeza e ele está sempre aí. Você sempre ficava em um canto observando tudo e acompanhando tudo com o olhar." Na hora só pude abraçá-la. Não podia dizer o porquê. Não valia a pena. Acho que no fundo ela sabia o que havia acontecido comigo. Não era culpa de ninguém e era culpa de todo mundo.
E eu contei tudo isso para falar da percepção e de porque eu sou do jeito que sou. Como minha mãe tinha problemas e ela perturbava a família e, ao mesmo tempo, ela demonstrava gostar mais de mim do que dos meus irmãos, praticamente todos - sem perceber - transferiram suas frustrações para mim. É claro que eu via como minha mãe era, mas não entendia direito, então eu não a defendia, mas também não a atacava. Nunca gostei de conversa. Nunca gostei de fofoca. Nunca procurei agradar um, falando mal de outro. Então não falava mal da minha mãe para o meu pai e a família dele, mas não falava mal do meu pai e da família dele, para a minha mãe e, depois, para o meu primeiro padastro - o seu Erani - com quem ela foi casada um tempo.
Aí, o que restava a mim era ficar só observando, percebendo o que acontecia e me fechando em minha concha. Era isso que minha tia percebia, porém não entendia. E naquela época ninguém tinha a intenção de me conhecer realmente, ou de me estender a mão. Na verdade, acho que todos tinham medo de que eu ficasse como minha mãe.
E assim eu fui sendo moldada: percebendo sem ser percebida.
Assim eu vejo, hoje, que me tornei uma mulher invisível, imperceptível. Alguém que, para os que estão próximos de mim, deve estar sempre pronta a cuidar, a olhar, a perceber. Tive uma conversa com meus filhos Raquel e Giancarlo no domingo (29/03)e falei isso. Na verdade, implorei que olhassem para mim. Que vissem como estou. E acho que talvez isso mude alguma coisa. Por isso, digo que não são só medicamentos e tranquilidade que vão me ajudar a sair do quadro que estou.
Por Lorena Pires Rostirolla
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